A OLIVEIRA BRAVA – PRIVILÉGIO E ADVERTÊNCIA
SEMINÁRIO LIVRE DISCIPULADO IMPACTO
A OLIVEIRA BRAVA – PRIVILÉGIO E ADVERTÊNCIA
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Até agora Paulo esteve falando com os judeus, e agora se volta para os gentios. Ele é o apóstolo dos gentios, mas não pode esquecer o seu próprio povo. Em realidade, chega a dizer que um de seus principais objetivos é provocar a ciúmes os judeus, mostrando o que a cristandade tem feito pelos gentios. Um dos modos mais seguros de fazer com que alguém deseje o cristianismo é fazê-lo ver na vida real, o que aquele pode fazer.
Houve uma vez um soldado que foi ferido em combate. O capelão se arrastou até ele e fez o que pôde por ajudá-lo. Permaneceu ali quando o resto das tropas se retirou. No calor do dia lhe deu água de sua própria bolsa, enquanto ele mesmo estava sedento. De noite, quando descia o frio da geada, cobriu o ferido com seu próprio casaco, e finalmente o envolveu com outros de seus objetos para protegê-lo do frio. No final, o ferido olhou ao capelão e lhe disse: "Pai, é você um cristão?" "Tento ser", respondeu-lhe o pai. "Então", disse o ferido, "se o cristianismo pode fazer a um homem o que você fez por mim, me fale dele, porque quero tê-lo." Foi a cristandade em ação a que o moveu a invejar uma fé que podia produzir uma vida como essa.
Paulo esperava e orava e ambicionava que um dia os judeus vissem o que o cristianismo tinha feito pelos gentios, e que isso os movesse a desejá-lo.
Para Paulo, seria o paraíso se os judeus respondessem prontamente. Se o rechaço dos judeus tinha feito tanto; se, por ele os gentios se reconciliaram com Deus, quão superlativa glória será quando entrarem os judeus! Se a tragédia do rechaço tinha dado tão maravilhosos resultados, como será o final feliz, quando a tragédia do repúdio se transforme na glória da aceitação? Paulo só pode dizer que será como os mortos voltando à vida.
Logo Paulo usa duas figuras para mostrar que os judeus não podem ser total e finalmente rechaçados. Toda comida devia ser consagrada a Deus. Antes de ser ingerida devia ser oferecida a Deus. Assim a Lei estabelecia (Números 15:19-20) que, se fosse preparada uma massa, a primeira parte dela devia ser ofertada a Deus; feito isto a totalidade da massa se tornava sagrada. Não era necessário, por exemplo, oferecer cada bocado separadamente a Deus. A oferta da primeira parte, santificava o todo.
Era muito comum plantar árvores sagradas em lugares consagrados aos deuses. Quando se plantava a pequena árvore, o renovo era dedicado a Deus e, dali em adiante, cada novo ramo que brotava, era sagrado. Não era necessário dedicar cada ramo separadamente; a oferta da arvorezinha fazia com que toda a árvore fosse sagrada. O que Paulo deduz disto é que os patriarcas estavam consagrados a Deus; eles tinham ouvido a Deus de uma maneira muito especial e tinham obedecido a palavra de Deus; tinham sido escolhidos e selecionados de uma maneira especial; e consagrados e dedicados por Deus. Deles surgiu toda a nação e, assim como o primeiro punhado de massa que foi consagrado, tornava sagrada toda a massa, e assim como a oferta da arvorezinha faz com que a árvore inteira seja sagrada, assim a especial consagração dos fundadores da nação fazia com que a nação inteira estivesse de certo modo consagrada a Deus. Aqui há verdade. Não foi por si mesmos que os remanescentes de Israel vieram a ser o que eram; herdaram a fé e a crença de seus antepassados. Cada um de nós vive, até certo ponto, do capital espiritual do passado. Nenhum de nós se fez a si mesmo completamente. Somos o que nossos piedosos pais e antecessores fizeram de nós; e, embora nos tenhamos extraviado e tenhamos ofendido nossa herança, não podemos nos separar totalmente da bondade e da fidelidade que nos fizeram o que somos.
Logo Paulo passa a usar uma longa alegoria. Mais de uma vez os profetas descreveram a nação de Israel como a oliveira de Deus. Isto era natural, já que a oliveira era a árvore mais comum e útil no mundo do Mediterrâneo. “O SENHOR te chamou de oliveira verde, formosa por seus deliciosos frutos” (Jeremias 11:16). “Estender-se-ão os seus ramos, o seu esplendor será como o da oliveira, e sua fragrância, como a do Líbano” (Oséias 14:6). Paulo, pois, considera aqui os gentios como se fossem ramos de oliveira brava enxertadas na oliveira doméstica que era Israel.
É certo que do ponto de vista da horticultura, a figura que usa Paulo é impossível. Em horticultura a oliveira boa é aquela que se enxerta em um pé silvestre para produzir uma oliveira frutífero. O processo que Paulo descreve de fato nunca se usou, porque não teria sido útil. Mas isso não vem ao caso. O que Paulo quer mostrar é muito claro. Os gentios tinham estado no deserto e na solidão e em meio das sarças selvagens; e agora, por um ato da graça de Deus, foram enxertados na riqueza e fertilidade da oliveira doméstica.
Disto Paulo tem que dizer duas palavras:
(1) A primeira é uma palavra de advertência. Teria sido fácil para os gentios desenvolver uma atitude de desprezo. Não foram os judeus rechaçados para que eles entrassem? Em um mundo onde os judeus eram universalmente odiados, tal atitude teria sido muito fácil. A advertência de Paulo é ainda necessária. Com efeito, o que diz é isto: não teria havido cristianismo sem que primeiro existisse o judaísmo. O judaísmo é a raiz da qual cresceu o cristianismo. Será um mau dia aquele em que a Igreja cristã esqueça a raiz da qual cresceu. A Igreja cristã tem uma dívida com o judaísmo que só pode ser paga ganhando os judeus para o cristianismo. Paulo alerta, pois, os gentios contra o desprezo. Tristemente, diz que se os verdadeiros ramos foram truncados por causa de sua incredulidade, pior ainda é o que pode ocorrer aos ramos que só foram enxertados.
(2) A segunda é uma palavra de esperança. Os gentios experimentaram a bondade de Deus; e os judeus experimentaram a severidade de Deus. Se os gentios permanecerem fiéis a Deus, permanecerão nessa bondade; mas, se os judeus deixarem sua incredulidade e a transformam em fé, eles também serão novamente enxertados; porque, diz Paulo, se um estranho, uma oliveira brava, pôde ser enxertada na oliveira doméstica quanto mais possível é que os próprios ramos da mesma possam ser enxertadas novamente entre si? Mais uma vez, Paulo sonha com o dia em que os judeus devem voltar.
Há muitas coisas nesta passagem que são recônditas e difíceis de entender. Pensa em figuras que estão completamente fora de nosso mundo; mas uma coisa está clara como cristal — a conexão entre judaísmo e cristianismo, a conexão entre o velho e o novo. Aqui está a resposta daqueles que desejam descartar o Antigo Testamento como um livro simplesmente judeu sem pertinência para o cristianismo. É um parvo que chuta a escada que o elevou à altura que alcançou. Seria um ramo tolo aquele que se amputasse de seu tronco. A nova fé cresceu da velha. A fé judia é a raiz da qual surgiu o cristianismo. A consumação só chegará quando a oliveira brava e a doméstica sejam uma só, e quando não ficarem mais ramos sem enxertar do tronco paterno.
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